Ah esses dias
Dias tão lindos
De cores vivas
A carne é crua
Nas luas cheias
Horas vazias
Dias tão chumbo
São nossos dias
Dias caninos
De despedidas
De despedidos
Dias tão mínimos
Vagando o mundo
Contaminados
Por todo o vírus
Exacerbados em números
Subtraídos zero
Nove vezes fora
Nos que voltamos
Bola na trave
Cheque sem fundos
Nos dias lindos
De cores frias
Juras são juros
Terra estrangeira
Nosso Brasil
Dos deuses gula
Dos animais
Da nossas almas
Dependuradas
Ganchos de açougue
São esses dias
Admiráveis
Tão miseráveis
Todos os dias
Tão atolados
Nos desvalores
Das companhias
Dos desalmados
Que dias lindos
Telemenmônicos
Tão desmiolados
Desconstruídos
Na artilharia
Do concreto armado
Olha o estilhaço
A eternidade
Olha o sagrado
Na melodia
Das asas roxas
De Chet Baker
Dias do fim
Dias tão lindos
Intoxicados
Pneus e lixo
Somos jogados
Pelas esquinas
Tão esquecidos
Atropelados
Todos os dias
Passam assim
Tão preocupados
Ternos Armani
Dias de nada
Nada tão zen
Tão chá de banco
Das secretárias
Dos funcionários
Disfuncionados
Das que há dias
São tão novelas
De Stephen King
Dias que vôo
Num pesadelo
Pela cidade
E dessa altura
Dos edifícios
O fim do dia
Desaba em mim