Enquanto Trindade louvava o Divino
Surgiu um grã-fino num certo salão
Falando horrores com ares de troça
Da gente da roça que cuida do chão
Mas entre os presentes um moço que eu via
Com diplomacia chamou-lhe a atenção
Eu venho pedir que seu mal brasileiro
Que trate o roceiro com educação
Jogando pra trás os cabelos compridos
Num gesto atrevido falou arrogante
Quem és ó caipira com essa rompança
Te dar confiança pra mim é humilhante
Meu pai tem riquezas e na sociedade
Só faço amizade com gente importante
E quem te apóia caipira atrasado
Procura atestado de ignorante
Respondeu o moço com educação
Vim ver o sertão onde fui criado
Agora a verdade tem que vir à tona
Não me impressiona teu papo furado
Que vale esta estampa de rico fingido
Se és atrevido e mal educado
Sou pobre e humilde mas digo a verdade
E na faculdade eu fui diplomado
Respeito e defendo o nosso roceiro
Que ganha dinheiro lavrando o chão
Sem ele coitado de alguns que enriquecem
E as vezes se esquecem que comem feijão
Ouvindo estas frases toda a caboclada
Em fila formada apertaram-lhe a mão
E o moço grã-fino vencido bradava
- Eu não esperava por esta lição
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)