Circunstanciais os limites
Pra quem vive no moerão
Num rancho de terra bruta
A um metro e tanto do chão
Um casal de João de barro
Com paciência, bico e asa
Escolheu bem na porteira
Pra erguer o sonho da casa
O barro depois da chuva
Bastou pra toda a morada
Mangueira de terra boa
Sovada com a cavalhada
O tempo fez dias claros
E a construção foi parelha
Duas semanas e o rancho
Foi do alicerce pras telhas
O macho levava cantos
Pro timbre dos alambrados
Na partitura da cerca
Anunciava os bem chegados
Toda manhã de setembro
Um canto novo acordava
Quando a fêmea emplumada
Por sobre o rancho cantava
Porta pro lado do sol
Meter a cara em porfia
E um canto de passarinho
Chamando as barras do dia
Porque a vida tem sentidos
Onde a razão não se cansa
De renascer todo o dia
Aonde exista esperança
Mas foi bem junto com a chuva
Que uma tropa de cruzada
Se apertou bem na porteira
Querendo pegar a estrada
E o moerão, num trompaço
Perdeu o entono e a razão
E derrubou o ranchinho
De terra e ninho pro chão
E a tropa cruzou por diante
Sem reparar o que fez
Casco e pisada quedaram
Dois sonhos de uma só vez
E o barreiro repousado
No outro moerão da porteira
Parecia que buscava
Ao longe a sua companheira
Custou, mas cantou de novo
De asa e de bico aberto
Quando o casal se encontrou
Num cinamomo ali perto
Pra erguer um novo rancho
No mesmo ciclo de espera
Longe do cruzo das tropas
Na próxima primavera