Como uma ampulheta sem areia a transvazar
Como um barco à vela sem vento para o guiar
Como um palhaço sem fazer alguém sorrir
É como eu me sinto com você longe de mim
É um labirinto sem saída
Uma chegada sem partida
Um cálice sem o vinho
É ninho sem passarinho
Ampulheta ao contrário
Pirata sem seu corsário
Pierrot sem colombina
E um museu sem relicário
Meu amor platônico é fazendeiro sem sua horta
É como um sândalo a perfumar o que lhe corta
Tem memória curta pro desgosto que me faz
Mas segura toda a alegria que me traz
É como obstar o abstrato
Estar certo sempre errado
Um acerbo adocicado
Uma geleira sobre o cálido
A navalha pra não cortar
A quilha sem estar no mar
Poeta sem belas rimas
E um amor a machucar