(“- Quem bate com tanta fúria aqui no inferno?
É o Lampião, bichinho! Vê se abre logo essa porta
Ô xente! Pois fique sabendo que eu sou o satanás, demônio, lúcifer, o dono aqui do inferno. O que é que está querendo aqui, hem?
Pois qué sabê de uma coisa, seu cabra da peste. Vá pros diabo que o carregue. Eu quero entrá aqui no inferno
E o que é que você fazia lá na Terra?
Ô xente! Diabinho ingnorante, tu nunca ouviu falá do rei do cangaço, o terror lá do sertão? Pois vou lhe dizê quem eu sou, escuta lá”)
Sou Virgulino Ferreira
Cabra macho a vida inteira
Apelidado Lampião
Sou valente e destemido
Como rei sou conhecido
Nas caatingas do sertão
Sou caboclo resolvido
Não lembro de ter tremido
Diante de qualquer valente
Naquelas bandas do norte
Sou o Lampião da morte
Sempre fui linha de frente
(“- Olha aí, eu gostei da sua folha corrida lá na Terra, viu? Mas aqui não tem mais vaga, se quiser fique lá no purgatório e espera a sua vez de ser chamado, está bem?
Ô xente! Não quer deixar eu entrar no inferno, não? Pois eu vou lhe mostrá, seu diabinho inchirido com quantos paus se faz uma canoa, e é pra já seu cabra da peste, vou lhe riscá de peixeira
Não faça isso Lampião. Tome conta do inferno, vá, vá, vá”)
Lampião é cabra macho
Que nunca teve por baixo
E o medo não conheceu
No inferno ficou zangado
Fez um sururu danado
Até o diabo correu
Por isso já estão falando
Que sua alma anda vagando
Correndo de déu em déu
No inferno fecharam a porta
Hoje ele vai e volta
Sem poder entrar no céu
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)