Venho de um tempo onde o tempo não havia
Quando o azul do céu não nos queimava
E a noite, antes de ser noite, era dia
E a tarde, antes de ser, nunca tardava
Venho de um tempo onde toda a solidão
Não se sabia meu amor, não se sabia
Era mais clara a cor agreste da paixão
E a desventura não havia, não havia
Tenho um poema que te quero revelar
Seara brava, lua cheia, quem me dera!
Breve novembro onde encontrei o teu olhar
Para me perder de uma só vez na primavera
Rasguei o medo de viver, rasguei a sorte
Provei o fel das minhas magoas e fracassos
Pedi à vida para viver até à morte
Pedi à morte para matar os meus cansaços
Não inventei de uma só vez esta distancia
Não entendi de uma só vez o entendimento
A nossa vida é muito mais que a nossa infância
A nossa morte é muito mais que o sofrimento
Tenho um poema que te quero revelar
Seara brava, lua cheia, quem me dera!
Breve novembro onde encontrei o teu olhar
Para me perder de uma só vez na primavera
Venho de um tempo, onde o tempo não havia ?