Lancei ao mar um madeiro
Espetei-lhe um pau e um lençol
Com palpite marinheiro
Medi a altura do sol
Com a mão esquerda benzi-me
Com a direita esganei
Mil vezes no chão bati-me
Outras mil me levantei
Dormi no dorso das vagas
Pasmei na orla das praias
Arreneguei, roguei pragas
Mordi peloiros e zagaias
Tremi no escuro da selva
Alambique de suores
Estendi na areia e na relva
Mulheres de todas as cores
Moldei as chaves do mundo
A que outros chamaram seu
Mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu
O meu sabor é diferente
Provo-me e saibo-me a sal
Não se nasce impunemente
Nas praias de Portugal