Nego
Nego, não, pai, preto!
Preto foi Cruz e Souza!
E quem foi Cruz e Souza?
Negro poeta
Era um esteta
Toda a sua cria
O negro lambia
O negro lambia
Toda a sua cria
Era um esteta
O negro poeta
Aqui vai a minha homenagem ao expoente do Simbolismo
Um poeta sofrido que lutou contra o ortodoxismo na poesia brasileira
Modernista
Poeta
O simbolista foi uma cria lambida por Carolina Conceição
Lavadeira como Leopoldina de Assis e Tereza de Jesus
Nas tinas, nos tanques, nas lajes
Na fonte
Carolina
Tereza
Leopoldina
Nas fontes
Nas lajes
Nas tinas
A fonte de águas cristalinas corre
Chamalotes de prata levantando
E através de arvoredos murmurando
Entre arvoredos murmurando morre
No ocaso, o sol, a luz no oceano escorre
E sempre vejo as sombras afrontando
Uma mulher que canta e ri, lavando
Mesmo que o sol muito abrasado jorre
É verde o campo, deleitável e ermo
Pássaros cortam vastidões sem termo
Borboletas azuis roçam nas águas
E cantando, a mulher, a rir a face
Lava cantando como se lavasse
As suas grandes e profundas mágoas
João da Cruz e Souza
Veio a este mundo
Sem eira nem beira
Foi cria lambida
Por mãe lavadeira
O negro poeta
Era um esteta
Toda a sua cria
O negro lambia
O negro lambia
Toda a sua cria
Era um esteta
O negro poeta
Viva Cruz e Souza!