Do alto de uma torre, princesa bela
Tão soturna e sozinha, espera
Aquilo que lhe conceder a sorte
Um príncipe, um beijo ou a morte
E toma nota da sua solidão
Contando os dias nas pedras do chão
Todos os suspiros, todas as dores
Perecem na clausura da torre
E a princesa se prostrava vencida
Meditava, taciturna, na vida
Caia na terra desde suas alturas
O som partido de sua lamúria
Noite que eu chamo e não vem
Dai-me teu nome
Princesa, que na torre enclausurada
Foi concebida e será sepultada
Sei que nunca tiveste teu descanso
Não há canto para o teu pranto
E o desassossego tece a manta
E te cobre, a angústia te acalanta
Canhestra, acomodas o corpo estreito
E a vigília te toma como leito
E sempre que o sono te corteja
Por algum decreto ou malfazeja
A tua alma se contorce em tormento
E de longe se escuta o teu lamento
Noite, que eu chamo e não vem
Dai-me teu nome
Princesa, teu vestido de cetim
Que atravessa os dias e alcança a mim
Tem linhas e rugas que o tempo fez
Como aos traços que desenham tua tez
E antes que a sina se expire ou cesse
Vem te despertar, e não adormeces
Os filhos que destilam tua memória
E a tua história se espalha na história
Poeta, descansa tua lira no chão
Que sempre que entoas tua canção
O mar se agita e o céu se revolta
E a princesa mais uma vez acorda
Noite, que eu chamo e não vem
Dai-me teu nome