Eu fiz com meu trabalho
A vida inteira
Uma casinha branca no sertão
De frente prum caminho de palmeira
Do lado de nascente e ribeirão
De dia, o galo canta na porteira
E a passarada vem comer na mão
E à sombra de uma jabuticabeira
Passo a manhã contando uma canção
No almoço uma caninha costumeira
Vem do fogão de lenha um cheiro bom
Eu como uma comidinha mineira
Pra cochilar sob o caramanchão
No fim da tarde, um banho na ribeira
Deitar na rede e olhar pra essa amplidão
A estrela dalva é a estrela primeira
E o canto da cigarra é a saudação
De noite vem o perfume da roseira
E a Lua tece rendas no portão
Eu tenho a paz com minha companheira
Mas muita mágoa no meu coração
Por que não ser assim com a terra inteira
Por que uns conseguem, e outros não?
Eu canto uma toada brasileira
Pedindo um mundo assim pros meus irmãos