Eu sou a voz das anharas
Dos batuques das searas
Das sanzalas perdidas
Eu sou a voz
Dessa velha
Do pano rasgado
Do rosto enrugado
Pelas marcas da vida
A voz
Do n’dengue parido
Do fogo das xanas
De um dia vencido
Eu sou a voz
Sabor de goiaba
De manga roubada
Nos quintais da agonia
Eu sou a voz
Que é de todo mundo
Meu jeito marcado
De ser essa voz
Que está ao teu lado
Do cota cansado
No ontem marcado
De um tempo vadio
Eu sou a voz
De’mboa batida
Sem saber do prazer
Domada e ferida a voz
Dos becos escuros
Das casas sem pão
Dos tempos mais duros
Eu sou a voz
Dos que o nada levou
Calados sofrendo
O que aos outros sobrou
Eu sou a voz
Que é de todo mundo
Meu jeito marcado
De ser essa voz
Que está ao teu lado