Venho de longe, estou cansado, meu irmão
Trago nos ombros a poeira do estradão
Já fui tropeiro, fui carreiro, fui peão
Prova de laço, confesso, fui campeão
Se estou descalço, rasgado, de pé no chão
Não ligue não, este é o meu jeitão
Trago nas mãos os calos secos do cambão
É o que me resta desta grata profissão
Cabelos brancos, barba toda amarelada
Rosto queimado do sol quente da estrada
Esta guaiaca que você vê pendurada
Foi companheira das minhas grandes jornadas
Esta baldrana quase toda desbotada
Com as iniciais de quem foi a minha amada
Este pelego com a lã toda amassada
Foi meu colchão nos velhos pousos de boiada
Fui capataz, braço forte do patrão
Quantos transportes de boiada pelo chão
Da peonada só resta a recordação
Uns já morreram, e os outros aonde estão?
Foi o progresso e o desprezo do patrão
Fomos trocados por asfalto e caminhão
Quanta saudade trago no meu coração
O meu berrante ecoando no estradão
O meu berrante ecoando no estradão
O meu berrante ecoando no estradão
O meu berrante ecoando no estradão