Como asa de andorinha,
Ou como um negro manto,
Nos meus ombros, discreta,
A noite se debruça…
Tão logo se adivinha
A hora de ser canto
E a rima dum poeta
Na minha voz soluça.
Por estranho que pareça
Saio dentro de mim
E deixo exposta à lua
A nudez do meu fado…
Para que o céu não esqueça
Que já me viu assim:
Despida, d’alma nua,
Sem sombra de pecado.
Se a noite me procura,
Com estrelas no sorriso,
Se dentro em mim cravou
O amor que me conquista…
Deixai-me esta loucura,
Que tanto me é preciso,
Pois sem noite não sou
Nem fado, nem fadista!