O italiano Zé Quixote fazendeiro endinheirado
Perto de Poços de Caldas tinha um cafezá formado
No primeiro mutirão me mandou este recado
Você amola bem a enxada e venha bem preparado
A noite vou dar um baile com pernil e leitão assado
Também vem lá da Mogiana um carpidô afamado
Pra quebrar o braço da turma que mora por estes lados
Levei o Zequinha Vieira um caboclinho direito
Pra vê o moço da Mogiana com ele passar estreito
O Zequinha tirou a bota pra trabalhar com mais jeito
Foi de cima de um cupim, saiu metendo os peito
O tar moço da Mogiana não escondeu o desfeito
Ver a filha do italiano num namoro satisfeito
Torcendo para o Zequinha ser o primeiro do eito
Bem antes do armaço que o Zequinha terminô
Pondo a enxada nas costas pra rapaziada gritô
No cabo do guatambu ninguém achei quem me quebrô
E dali saiu se rindo por ser muito brincadô
Quando foi calçar a bota sua feição amarelô
Uma urutu das cruzeiro no seu pé ela picô
Estava dentro da bota e rapaiz não descunfiô
A pobre moça chorava vendo o rapaiz agonizando
Suas úrtimas palavras: lá no céu estou te esperando
Porque Deus foi separá nosso amor que ia brotando
A moça saiu correndo e no rio foi se jogando
Só o seu lencinho verde nas ondas ficou boiando
O moço lá do Mogiana tava triste arreclamando
Terminô em guardamento o mutirão do italiano
Noutro dia uma surpresa deixou o povo ali pasmado
É que o moço da Mogiana se apresentou ao delegado
- Doutor, o senhor me prenda que eu devo um crime dobrado
Pois eu fui o causador da morte dos namorado
Por amar a italianinha me tornei um desgraçado
Visto ela ter morrido pra mim tudo está acabado
A urutu dentro da bota eu que tinha colocado
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)