O padre da minha aldeia
Veio dar missa a Lisboa
Em vez de dizer o Pai-nosso
Disse ai tanta gaja tão boa
Também lá fiz de coveiro
Eu bem cedo abria as covas
O Zé enterrava as velhas
Eu é que enterrava as novas
Eu na minha freguesia
Comecei desde menino
A ajudar na sacristia
E também tocava o sino
Comecei a ganhar fama
Daquilo que eu lá fazia
Vinham moças de tão longe
P'ra morrer na freguesia
Sabem o que aconteceu
Com a prima do Menezes
Ela fingiu que morreu
Eu enterrei-a três vezes
Mas ouvi logo um sermão
Ao padre da minha aldeia
P'ra dar a missa das onze
Chega sempre às onze e meia
Que nunca mais se repita
O que na aldeia se fez
Pois seja feia ou bonita
Só se enterra uma vez