No tempo em que o negro era escravo
E o branco era senhor
Tanta coisa se escondia
Assim como angu quente no tacho
Tem sempre carne por debaixo
O negro dava duro e tudo se escondia
Um valor noutro valor
De demo chamaram Exu
Nossa Senhora, Yemanjá
São Roque foi Omulu
Senhor do Bonfim, Oxalá
Epa babaê
Nesse tempo se passou
A história que eu vou contar
De um senhor que se sorria
De ver os negros brincar
Angola eh eh
Angola eh eh Angolá
Senhor dom Pedro Amaral
Chamou a senhora mulher
Vem ver os negros brincando
De dançar lá no quintal
Eh Eh Eh Eh
Aruandê, camará
Galo cantou, camará
Cocoricó, camará
Meu feitor que aqui tem ordem
Gritou dom Pedro Amaral
Bota o negro a bater milho
No meio do milharal
Ô Ô Ô Ô
Quebra milho como gente, macaco
Macaco que quebra dendê, macaco
Senhor dom Pedro Amaral
Chamou a senhora mulher
Vem ver o negro safado
Me olhando do jeito que quer
No tempo em que o negro era escravo
E o branco era senhor
Nem sempre tudo se escondia
E vem dom Pedro Amaral
Com seu feitor e rabo de tatu
Dizendo para o negro
-Eu te mato, moleque
E o negro moleque é tu
-Cala a boca, moleque
-Moleque é tu
-É tu que é moleque
-Moleque é tu
São dois pra bater no negro
De páu, chicote e facão
Pra se safar tem o negro
Só dois pés e duas mãos
É a mão pelo pé
É o pé pela mão
Bate na cara
Derruba no chão
-Me acuda aqui seu feitor
que esse negro me esfola
Está quase a me matar
Na brincadeira de Angola
-Te mato, negro vagabundo
E o negro some no mundo
-Vamo simbora eh eh
Vamo simbora camará
Pro mundo afora eh eh
Pro mundo afora camará
Dar volta ao mundo eh eh
Voltar no mundo camará
Angola eh eh
Angola eh eh camará
Capoeira.