Ê, olha aí, vem de lá
Vem de lá seu gado manso, boiadeiro
Sobe e desce a sua ladeira
Compra tudo na sua feira
E come sem reclamar
Ê, olha aí, vem de lá
Vem de lá seu gado manso, boiadeiro
'té parece uma novena, obedece que faz pena
Paga e deixa tu ferrar
Não quero aprender
Longe de você vou fazer meu carnaval
Aboio pra tanger, grito pra vender
Seu recado é sempre igual
Mas o mundo gira
Enquanto você toca a sua boiada
O mundo ainda gira
Enquanto você toca a sua boiada
Ê, olha aí, vem de lá
Vem de lá seu gado manso, boiadeiro
Fazendo o que manda a antena
Repetindo a mesma cena
Pro rebanho se alinhar
Eu não temo ao disparo do canhão
Nem da guerra a cruel calamidade
Nem me causa temor a tempestade
Nem corisco nem raio e nem trovão
Não faz medo a zoada do leão
Nem da cobra o veneno fulminante
Nem faz medo a tromba do elefante
Nem da vida afinal o seu segredo
Nesse mundo o que vem fazendo medo
É cantar com os poetas ignorantes
Em cima, embaixo, pra frente, pra trás
Direita, esquerda, descendo, subindo, cabeça, cintura
Todo mundo prum lado, todo mundo pro outro
Todo mundo de novo
A gente canta, a gente brinca
A gente dá a louca e pinta
O dia com as cores que você já não se lembra mais
A gente mostra outro caminho
Só pra saber qual o barato o diferente traz
Enquanto você toca a sua boiada
* Trecho extraído da obra de Otacílio Batista (1923-2003)