Deitado na minha rede fico lembrando o passado
Do nosso tempo da infância, muitas coisas têm mudado
Até hoje eu não entendo, vinha da escola correndo,
pra trabalhar no pesado
Trabalhava no café, ou então atrás do gado
Sempre alegre cantando, nunca ficava cansado
Hoje é tudo diferente, pra não pegar no batente,
caminham pro mundo errado
Da nossa vida roceira, muitas saudades me traz
Amansando boi de carro, no tempo que eu fui rapaz
Dos bois que eu amansei bem certinho,
eu ensinei nenhum voltou pra trás
O nome dos nossos bois eu não esqueço jamais
Parece que estou ouvindo, barulho que o carro faz
Só a estrada da saudade, que era felicidade,
me deixou rastro pra trás
Os camaradas da casa, numa casinha dormia
No meio tinha um negrinho que era nossa alegria
Pegava seu violãozinho,
sentado ali num banquinho, tocava o que ele sabia
Lembro o primeiro ponteado que ele ensinou para mim
Quem conheceu tem saudade, saudade que não tem fim
Alma pura de bondade, que pra nós deixou saudade,
nosso negrinho Joaquim
Levantava bem cedinho, antes do dia clarear
E vinha na nossa casa, para nos cumprimentar
Nós ainda estava deitado,
mas na área ali do lado escutava ele falar
Bom dia Sr Vitório, bom dia dona Rosa
Eu já vou indo pra roça, o tempo tá de chuva
Com seu garrafão de barro e água bem cristalina
Ele pegou lá na mina, que muito amor ele tinha
No seu corote pequeno, deixou posar no sereno,
pra ficar bem geladinha
Esse negrinho que é gente, que tem a alma transparente
Com toda sua pobreza, vivia sempre contente
Tudo ele agradecia, Deus lhe pague ele dizia,
tava sempre sorridente
Hoje ele mora distante, está no céu com certeza
Cantando pra nós dizendo, pra nunca ter tristeza
Adeus negrinho da serra, você foi na minha terra,
uma flor da natureza