Pus as mãos à frente
Para não perceber
Tentei que um segredo fosse esconder
Que há quem diga que a vida é dos outros
Estão loucos
Mas não evito que essa ideia cresça em mim
Eu próprio já pensei que fosse assim
Tudo um grande embuste de quem chora
Agora
Temo que a razão se escape
A quem teimar a não mudar
Filhos da caverna que outros ajudaram a povoar
Do irrespirável ar
Que canta e dança e entretem quem vem
Mas sempre insiste
Que só ele existe
E ai de quem negar
Tê-lo por rei
Saibam que nem sempre fui um escravo fiel
Noutros tempos tive o meu papel
De messias estereotipado
Moldado
Mas nada reneguei por me julgar sozinho
Se não ainda me perdia p'lo caminho
É que as indicações são pouco claras
E raras
Mas só nas horas vagas
Eu desperto e vejo que desejo
Só nessas horas vagas
Novas sombras são cativa ilusão
De uma outra criação
Que canta e dança e entretem quem vem
Ainda que teime
Que só ela reine
De bom grado a aceito
Como lei
Mas não vou conseguir
Se não chegar a entender
Se é má vontade ou simples tradição sofrer
Eu não vou muito longe
Nesta incerta viagem
Se o combustível for minha coragem
Encosto-me a dormir
E a aceitar o que nego
Qualquer paisagem serve
A um olhar cego
E é melhor esquecer
Que eu já tive outra prece
Que a vida bem premeia que merece
Como animais
Como animais
Vou-me curar do vicio de querer sempre mais
Como animais
Como animais
Enquanto ainda não é tarde demais
Como animais
Como animais
Curei-me do desejo de querer sempre mais
Como animais
Como animais
Enquanto ainda não é tarde demais.