Fui ao jardim
Visitar flores quebradas
Perdidas no tempo
No pólen do nada
Um manto suspenso
De estirpe diferente
Com gente de pedra
E pedra de gente
Eu fui ao jardim
E as flores descansavam
Em canteiros quadrados onde nada muda
E os ciprestes
Ouviam as preces
Deitadas ao alto
Por pedras do chão
No jardim
Turva os olhos a vermelhidão
E os murmúrios são reza sem fim
Custa o passo a cada leirão
De quem deixou alguém no jardim
Fui ao jardim
Visitar flores quebradas
Perdidas de tudo
Na areia do nada
Um manto pesado
De calma suspensa
Deixado em repouso
Na eterna pertença
Eu fui ao jardim
E as flores descansavam
Em arranjos cuidados
Onde nada muda
E as preces
Beijavam ciprestes
Vergados do alto
Por pena do chão
No jardim
As sementes que nascem de nós
Plantam muros para lá do portão
E os riachos que brotam da foz
Correm soltos sem nunca ter chão
Turva os olhos a vermelhidão
E os murmúrios são reza sem fim
Custa o passo a cada leirão
De quem deixou alguém no jardim