declamado:
(“Contemplando o anoitecer
Vendo o céu escurecer eu fico olhando para trás
Vejo lá longe o passado
E o estradão que eu tenho andado que não volta nunca mais
Lá no começo da vida
Vejo uma cruizinha caída muito bem longe daqui
Na beira de uma estrada
Entre cipó abandonada no sertão onde eu nasci
Esta cruizinha esquecida
Na estrada de minha vida é o marco de uma lembrança
No pé daquela cruizinha
Foi onde morreu Rosinha, coleguinha de criança
Naquele sertão só tinha
Duas velhas palhocinhas bem no alto do espigão
E para mim só Rosinha
Era a única vizinha que eu tinha lá no sertão
Nem bem despontava o dia
A Rosinha já corria lá em casa me chamar
Levantava, que alegria
E correndo nós dois ia lá no corguinho brincar
Nós dois formamos um jardim
Plantamos rosas e alecrim, tinha flor roxa e amarela
Cada flor que eu apanhava
Correndo alegre eu levava pra enfeitar os cabelos dela
No tronco de um velho ipê
Juramos de se querer e até fizemos um sinal
Para quando nós dois crescesse
E os nosso ombros lá batesse nós havia de casar
Seu moço, se eu não me engano
Quando eu já tinha dez anos a desgraça aconteceu
Rosinha caiu doente
Com uma febre, de repente em poucas horas morreu
Seus olhos foram fechando
E para mim falou variando: - Não chore, eu vou passear
Foi tão longo teu passeio
Esperei tanto ela não veio, nunca mais tornou voltar
Toda flor que nós plantemos
Que juntinhos nós dois reguemos, eu dei pra ela levar
Parece que ela dizia: - Não chore, no céu um dia haveremos de se encontrar
Fui esperar no cerrado
O caixão passou enfeitado e todo o pessoal atrás
Desse tempo eu não sabia
Que quando a gente morria não voltava nunca mais
Lá no ipê que nós dois juremos
Onde tantas vez balancemos, com um galho fiz uma cruz
Ela partiu entre véu
Junto com os anjos do céu, cantar louvor à Jesus
Para muito longe mudei
Fiquei moço, me casei para ver se eu esquecia, mas quá
Até hoje, todas as tardes
Esta raiz da saudade no peito torna a brotar
Você está me ouvindo, Rosinha?
Eu já tenho uma filhinha do tamanho de você
Cada vez que olho ela
Parece que vejo nela o seu retrato aparecer
Pois desde que você foi embora
Eu saí pro mundo afora, só falsidade eu achei
E o amor mais sagrado e puro
Do que o nosso, eu juro, que nunca mais encontrei”)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)