Sou um tropeiro
Que estou aposentado
No meu rancho beira chão
Em meu banco vivo sentado
Olhando sempre pro céu
Vejo todo estrelado
Olho sempre na parede
Meu laço dependurado
Meu arreio e meu berrante
Está tudo empoeirado
A espora e meu revólver
Eu deixei abandonado
Meu cachorro, coitadinho
Vive sempre deitado
Meus cabelos embranqueceram
É o sinal do meu passado
Suspiro de hora em hora
Sai do meu peito guardado
Saudades de minha tropa
Da minha lida de gado
Esta é a vida de um tropeiro
De um boiadeiro afamado
Vendo a boiada passar
Cortando aquele estradão
A poeira vai subindo
O berrante vai tocando
Bem fundo em meu coração
Minhas lágrimas vão caindo
E tristonho eu ponho a chorar
Ouvindo o tropé da boiada
E a poeira levantar
Lembro os tempos da mocidade
Montado em meu alazão
Fui tropeiro de verdade
Preferido pelo patrão
O gado me entendia
Com ele eu conversava
Nunca tive covardia
Com a tropa que eu comandava
Tenho saudade dos velhos tempos
Que nunca mais voltarão
Do sol, da poeira, dos ventos
Que tocavam bem fundo em meu coração
Hoje no fim da vida
Recordo com muita saudade
O som da minha viola
Só me trouxe felicidade
Lembro o gado nas campinas
E nas noites enluaradas
Jantando um feijão tropeiro
Junto à beira da estrada
Lembro das lindas toadas
Com meu parceiro eu cantava
Naquelas noites tão lindas
A viola eu ponteava
Deixei distante a mulher amada
Tudo passou como um sonho
Hoje só me resta a saudade
Eu vivo sempre tristonho
Estou chegando ao fim da vida
E acabo minha história contar
Vida de tropeiro bem vivida
Vivo sempre a recordar
Aos tropeiros e boiadeiros
Que põem esse disco a tocar
Através desses meus versos
Vocês eu quero saudar
Vou me despedindo agora
Ouvindo um berrante a tocar
E o tropé da boiada
Meus olhos tristes se põem a chorar