declamado:
(“Você estrada de asfalto, já foi estrada de terra
Vou caminhando sozinho por suas curvas e serras
Contemplando os arvoredos
Que florescem logo cedo nas manhãs de primavera
Deixa eu sentar-me ao seu lado
Relembrar aqueles dias que aqui passavam boiadas
E de longe a gente ouvia o repicar de um berrante
Em muitas léguas distante o seu eco repetia
Depois veio o negro asfalto, cobrindo tudo no chão
Areia, terras e gramas e os rastros do caminhão
Cobrindo sinais deixados
Pelos cascos afiados do meu cavalo alazão
Você estrada de asfalto, hoje é estrada criminosa
Quantos já perderam a vida em suas curvas perigosas
É o progresso que chegou
E só saudade deixou daquela era saudosa
A boiada que seguia ao toque do berranteiro
Pra atravessar um estado demorava o mês inteiro
Hoje vai em poucas horas
Com os bois numa gaiola que é o expresso boiadeiro
Motoristas, tenham calma, não atravessem a lombada
Cuidado com a neblina e com as curvas fechadas
Não confiem só na sorte
Pra que haja menos morte, menos cruzes na estrada
Vai negra estrada de asfalto os problemas carregando
Pessoas que vem de longe, uns sorrindo, outros chorando
Outros que não voltam mais
Porque deixou para trás alguma mão acenando
Pessoas que vem de longe trazendo na alma a esperança
Outras que partem levando no coração a lembrança
Mil emoções diferentes
Que vai na alma da gente e aumentando mais na distância
Eu, contemplando esta estrada de curva, serras e subida
Me lembro que tenho na alma uma estrada parecida
Por onde passou meus anos
De amargura e desenganos na longa estrada da vida
Duas viagens já fiz nessa estrada no passado
Nos braços de minha mãe quando eu fui batizado
E depois, na mocidade
Levei meu bem pra cidade, de lá voltamos casados
Falta a última viagem, que um dia deve chegar
É a viagem derradeira de quem vai pra não voltar
E lá no fim da estrada
Na minha eterna morada vou pra sempre descansar
É esta a estrada da vida que todos devem passar”)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)