Não sei, não sabe ninguém
porque canto fado neste tão magoado de dor e de pranto.
E neste tormento, todo sofrimento que sinto na alma
cá dentro se acalma nos versos que canto.
Foi Deus que deu luz aos olhos, perfumou a rosa;
que deu ouro ao sol e prata ao luar.
Ai, foi Deus que me pôs no peito
um rosário de penas que vou desfiando
e choro a cantar.
E pôs as estrelas no céu,
fez um espaço sem fim,
deu luto às andorinhas, ai!
e deu-me esta voz a mim.
Se canto, não sei porque canto!
Misto de ventura, saudade, ternura ou talvez amor.
Só sei que cantando sinto mesmo quando
se tem um desgosto e o pranto no rosto nos deixa melhor.
Foi Deus que deu voz ao vento, luz ao firmamento
e pôs o azul nas ondas do mar;
Ai, foi Deus que me pôs no peito
um rosário de penas que vou desfiando
e choro a cantar.
Fez poeta o rouxinol,
pôs no campo o alecrim,
deu flores à primavera, ai!
e deu-me esta voz a mim.