O menino banguela é um fiapo de gente
E a menina ao seu lado é também indigente
Lá se vão de mãos dadas à vista do mundo indiferente
Nem parecem ter fome e nem sede e é patente
Que o sarnento lhes deu porção indecente
Que os imantou de uma luz incandescente
E os corpinhos se unem à noite luzente
E esperam do céu que uma estrela cadente
Os cubra dum manto de nuvem fulgente
E cure essa febre que arde fremente
E vem assomando, assim num repente
Cobrindo seus corpos de uma luz refulgente
São rios cruzando formando afluentes
São trilhos dispostos sobre dormentes
Que rangem à passagem dos trens que urgentes
Os levam, coitados, como pingentes
Rangendo de frio os dentes doentes
Iguais às carcaças de estrelas cadentes