Levando oitocentos bois
Eu saí de Rancharia
Na praça de Três Lagoas
Cheguei no morrer do dia
O sino de uma igrejinha
Numa estranha melodia
Anunciava tristemente
A hora da Ave-Maria
Eu entrei igreja adentro
Pra fazer minha oração
Assisti um quadro triste
Que cortou meu coração
Um pretinho aleijado
Somente com uma das mãos
Puxava a corda do sino
Cantando triste canção, ai, ai
Aquela alma feliz
Era um espelho à muita gente
Que tendo tudo no mundo
Da vida vive descrente
O meu negro coração
Transformou-se de repente
Ao terminar minha prece
Era um homem diferente
Noutro dia com a boiada
Saí de madrugadinha
Muitas léguas de distância
Esta notícia me vinha
Um malvado desordeiro
Assaltou a igrejinha
E matou o aleijadinho
Pra roubar tudo que tinha, ai, ai
O sino de Três Lagoas
Vivia silenciado
E eu com meu para-belo
Andava atrás do malvado
Voltando nesta cidade
Vi o povo assustado
Diz que o sino à meia-noite
Sozinho tinha tocado
Quando entrei na igrejinha
Uma voz pra mim falou
Jogue fora esta arma
Não se torne um pecador
Tirar a vida de um cristão
Compete a Nosso Senhor
Conheci a voz do pretinho
O meu ódio se acabou, ai, ai
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)