Eu tava numas carreira' só olhando pras donzela'
Meu sombreiro bem tapeado parecia uma gamela
Cheguei perto de uma china que avistei na janela
Meu tirador de capincho, ainda c'o a graxa amarela
Não deixava que eu sentisse direito o perfume dela
Cheguei e falei pra moça: -Me agradei da tua beleza
Sei que é de boa conduta, conheço essa redondeza
Eu fiquei muito encantado com a tua delicadeza!
Ela já cortou minhas asa' botando as carta' na mesa
Disse: -Eu não sei o que é pior, tua grossura ou tua magreza!
Grossura não é defeito, te digo, prenda mimosa
É de doma e lida bruta que a' minhas mão' tão que é uma grosa
Já muita china de estouro cobiçou ouvir minha prosa
Gordura nunca foi força e ainda te digo, teimosa
Que a carne contra o osso é muito mais saborosa
Não que eu seja exibido, mas eu sou atracador
Índio da canela fina é que dá trabalhador
Mesmo c'o as minhas grossura', também sou conquistador
E é só tu dizer um quero que eu largo pro corredor
E te levo na garupa do meu mulo marchador
Chacoalhei a laranjeira e não é que a fruta cai
Se agradou que eu não me achico e, ligeiro, a resposta sai
E eu perguntei pra ela: Então, comigo, tu vai?
Disse: -Sim, só vou dar adeus pra mamãe e pro papai!
E eu levei a china embora pra fronteira c'o Uruguai
Ela chegou no meu rancho, já deu de mão nas panela'
Fez uma boia bem gorda de entupir o cano da goela
Passa agora me pedindo: Canta a tua música, aquela!
Sigo grosso no meu jeito e bem fino nas canela'
E a guria, hoje, admira as grossura' do magricela