Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim
E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Por uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim
E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que és o maior e que me possuis
Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte
Te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu
Moreno fez bobagem
Maltratou meu pobre coração
Aproveitou a minha ausência
Botou mulher sambando no meu barracão
E quando eu penso que outra mulher
Requebrou pra meu moreno ver
Nem dá jeito de cantar
Só dá vontade de chorar e de morrer
Deixou que ela passeasse na favela com meu peignoir
Minha sandália de veludo deu à ela para sapatear
E eu de longe me acabando, trabalhando pra viver
Por causa dele dancei rumba e foxtrote para inglês ver
Meu moreno fez bobagem
Maltratou meu pobre coração
Aproveitou a minha ausência
Botou mulher sambando no meu barracão
E quando eu penso que outra mulher
Requebrou pra meu moreno ver
Nem dá jeito de cantar
Só dá vontade de chorar e de
Noite eu rondo a cidade
A te procurar, sem encontrar
No meio de olhares espio
Em todos os bares
Você não está
Volto pra casa abatida
Desencantada da vida
O sonho, alegria me dá
Nele você está
Ah! Se eu tivesse
Quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desiste, essa busca é inútil
Eu não desistia
Porém, com perfeita paciência
Sigo a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando um dadinho
Jogando bilhar
E nesse dia, então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida
Encontrei o meu pedaço na avenida
De camisa amarela
Cantando a Florisbela, oi, a Florisbela
Convidei-o a voltar pra casa
Em minha companhia
Exibiu-me um sorriso de ironia
E desapareceu no turbilhão da galeria
Não estava nada bom
O meu pedaço na verdade
Estava bem mamado
Bem chumbado, atravessado
Foi por aí cambaleando
Se acabando num cordão
Com o reco-reco na mão
Mais tarde o encontrei
Num café zurrapa
Do Largo da Lapa
Folião de raça
Tomando o quarto copo de cachaça
Isto não é chalaça
Voltou às onze horas da manhã
Mas só na quarta-feira
Cantando A Jardineira, oi, A Jardineira
Me pediu ainda zonzo
Um copo d'água com bicarbonato
O meu pedaço estava ruim de fato
Pois caiu na cama
E não tirou nem o sapato
Roncou uma semana
Despertou mal humorado
Quis brigar comigo
Que perigo, mas não ligo
O meu pedaço me domina
Me fascina, ele é o tal
Por isso não levo a mal
Pegou a camisa, a camisa amarela
E botou fogo nela
Gosto dele assim
Passada a brincadeira
E ele é pra mim
Meu Senhor do Bonfim