A voz do rio, lentamente
Desse por sobre a corrente,
Gemendo desde a nascente
Sem se importar com ningém!
E a minha vóz de onde vem?
Vem de Ramilo Barcelos
E evoca \"Antônio Chimango\"
Surra de espora e de mango
O tempo velho imortal
Evoca Lauro Rodriguez
Que vem batendo na anca
De sua \"Senzala Branca\"
De um Brasil tão desigual\"
A voz do tempo é um gemido,
Nem todos tem ouvido
Para escuta-lo, sentindo,
Chorando a ausência de alguém
E a minha vóz de onde vem?
Vem junto ao \"Gado Xucro\"
Que Vargas Neto assinala
E envolta no \"Poncho e Pala\"
Do gaúcho Zeca Blau;
Talvez de dentro da estância
Trouxe este timbre de macho
Ou do \"Porteiro de Guachos\"
Do Jaime Caetano Braun...
A voz do vento me enfrenta,
Se faz brisa e tormenta
Se chega, parte e se ausenta,
Torna voltar com desdém...
E a minha voz de onde vem?
Trazendo \"Marcas do Tempo\"
Vem de Aureliano a seu rastro,
De Nilza e Pery de Castro,
De Glaucus, Cyro Gavião...
De Apparicio Silva Rillo
Que ao \"Pago Vago\" se acampa
E semeia a \"Alma Pampa\"
Pra enraizar neste chão!
A voz da terra levanta,
cada poço é uma garganta,
Talvez por isso, é que canta
No balde que nele tem...
E a minha voz de onde vem?
Vem de João Cunha Vargas,
De Juca Ruivo e Balbino;
De Alzira Jacques bum hino,
De Rui e Zeno essa voz,
vem de Nogueira Leiria,
De Retamozo e garanto
Que há de se ouvir no meu canto
O canto de todos nós...