Lá vem um carro de boi
Uns diz que ele vem cantando
Mas na minha opinião
Eu acho que vem chorando
Vou explicá pra vancêis tudo
A rezão do meu pensar
Quando alembro desse causo
Bem queria não lembrar
Os meus óio treme tanto
Garra de garrá piscá
E por mais força que eu faça
Tenho mesmo que chorá
Se me alembro do Reimundo
Inté dói meu coração
Nóis vivia sempre junto
A brincar de rodá pião
Empinando papagaio
E a nadar no reberão
Ele era tão amigo
Que eu considerava irmão
O tabáio era um prazer
Co esse ótimo parcero
Ter amigo e ter saúde
Vale mais do que dinheiro
Num percisa nem contá
Nossa lida era carrero
Tinha um carro e dois boi manso
O Maiado e o Campero
(“Encosta Maiado! Ê, ê Campero! ”)
Reimundinho a bem dizê
Era quaji meu cunhado
Inté o dia do casório
Co minha irmã tava marcado
Eu achava tão bunito
Quando vinha do povoado
Reimundinho tão feliz
A cantar apaixonado
Mas um dia, inda me alembro
Esquecê eu não consigo
Nosso carro vagaroso
Sem mostrar nenhum perigo
Num sei como ele tombô
Parecendo inté castigo
E matô o Reimundinho
O maior dos meus amigo
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)