Minha querida mamãe
É com a maior sôdade
Que envio nesta cartinha
Votos de felicidade
Quanto a mim e meus colega
Semos uma irmandade
Temos orguio de ser
Sordados da liberdade
Aqui semo bem tratado
Temo agasaio e comida
Mas quando é de tardezinha
A sôdade é delorida
Quando eu canto na viola
A cantiga é tão sentida
Que parece que eu tô vendo
Todo os dia da minha vida
Vejo o rancho de sapé
E a senhora a trabaiar
Vejo a talha atrás da porta
Vejo as vara de pescar
Os passarinho nas árve
Vejo a horta e o pomar
Inté parece que iscuito
A criançada a brincar
Parece um sonho isso tudo
E um sonho tão bonito
Que eu perfiro ir sonhando
E quase que eu acredito
Vejo assim os meus amigo
Joaquim, Paulo e Benedito
Mas quando alembro da noiva
Meu coração fica aflito
Daí então me desperto
E um pensamento me vem
Que a senhora e a minha noiva
Sempre se quiseram bem
E uma consola a outra
Pelo amor que por mim tem
E tem o mesmo idear
São brasileiras também
Ao terminar esta carta
Digo com sinceridade
Que apesar de aqui distante
Eu sofro grande sôdade
Eu dou graças ao bom Deus
Por ter a felicidade
De luitar por essa causa
A causa da liberdade
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)