A velha da minha vila
Vigia pela janela
Se alguém sobe no muro
Morre de medo dela
A velha da minha vila
Vestida de seda antiga
Não vê que a vida não volta
Mas vive em volta da vida
A velha da minha vila
Da cabeça de algodão
Só pensa que o não é sim
Dizendo sempre que não
A velha da minha vila
Só fala da vida alheia
Não sei se ela foi bonita
Me olhando de cara feia
A velha da minha vila
Tem um rosto de saudade
Que acorda cedo e que ainda
Guarda um gosto de felicidade
De poder vir à janela
De brigar por vaidade
De quem tem como ela
Oitenta anos de idade.