Sempre: o espaço vazio
(Pedro Abrunhosa / Pedro Abrunhosa)
Deixei as palavras
Devorar-me os segredos,
Abracei a cidade
E prendi-a entre os dedos.
Cansei-me das ruas,
Das luzes de prata,
Escondi-me nas portas
Em vertigens de faca.
Abri as janelas
Sobre praças divinas,
E fechei-te nos braços
Sob a luz das cortinas.
Mergulhei no abismo
De um olhar tão urgente,
E beijei-te sem pressa
Pedindo-te o sempre.
A vida é só este espaço vazio,
Um instante demente
Entre as margens de um rio.
Pedaço de tempo,
mentiras eternas,
Uma névoa de gente
De esperanças pequenas.
Foi então que sonhei
Que não tinhas partido,
Que as mãos eram céu
E as noites comigo.
Acordei num abraço
Sereno de ti,
E foi preso no nada
Que no sonho morri.
Disseste que o quarto
Te fugia das mãos,
Eu perdi-me no medo
Que tivesses razão.
Mata-me a saudade
Agarra-me para sempre…
A vida é só este espaço vazio,
Um instante demente
Entre as margens de um rio.
Pedaço de tempo,
mentiras eternas,
Uma névoa de gente
De esperanças pequenas.