Eu sou o espelho d'água que enfeita a areia
Morada de mistérios e sereias
Perfume que a maresia insiste em soprar
O encontro do beijo doce d’Oxum
Que corre pra rainha Iemanjá
Odoyá, salve mainha, nesse mar de Salvador
Conceição me alumia, a esperança navegou
Em batuques, ladainhas para lutas reviver
Eu sou, Baía, nas asas de Kirimurê
Sou eu, Baía, a mesma de Kirimurê
Baiana gira a saia aos pés da ribeira
Na pedreira de Xangô, na raiz da gameleira
Minhas fontes têm magia pra alma lavar
São fundamentos no mesmo altar
Baiana girou a saia, subiu a ladeira
Na fogueira de João, devoção à padroeira
Marisqueira, pinaúma, leva o pescado de lá
É poesia do mar, ô do mar
De todos os santos que lava teu pranto
À luz do farol
Barquinhos deslizam em dias azuis
Amores nascentes sob o pôr do Sol
Sou de arerê, de ijexá
No meu prazer vem mergulhar
Capoeira, balanço e axé
Camafeu é corrente de fé
Recôncavo reino de Aioká
A folia transborda o Pelô
Maria nos abençoou
Viver será só festejar
Ê tijuca, batizada no dendê
Meu ilê é o recanto de sobá
No vai e vem da maré a Lua cheia
Clareia a noite pro meu samba desaguar