Sexta-feira à meia-noite
Eu já estava deitado
Quando escutei um barulho
Levantei desconfiado
Era um velho macumbeiro
Das bandas da Água Rasa
Que veio fazer despacho
No portão da minha casa
De dentro eu assistia
Pela fresta da vidraça
Tinha quatro vela acesa
E um litro de cachaça
Tinha uma galinha preta
E um sapo morto no chão
Deste jeito ele falava
Ajoelhado em meu portão
declamado:
(“As corrente indiana fincam no espaço
Os corredô das caatinga do norte
Há de baixá no terreiro desta casa
Pra enrroletrá a vida deste cabra
Nesta casa todas as coisas tem que ir por água abaixo
A paz há de se transformá em desespero
O amor há de se transformá em ódio
O sorriso há de se transformá em lágrima
E a felicidade há de transformá em eterna separação”)
Eu dei um pulo pra fora
Dei um grito no terreiro
Quando cheguei no portão
Não vi mais o macumbeiro
Das velas fiz uma cruz
Queimei em cima do sapo
Mandei a pinga pra goela
E a galinha foi pro papo
Esse velho macumbeiro
De tudo se arrependeu
O mal que ele me fez
Ele mesmo recebeu
Meu avô sempre dizia
Um ditado verdadeiro
Que às vezes o feitiço
Vira contra o feiticeiro
Que às vezes o feitiço
Vira contra o feiticeiro
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)