PRIMEIRA ESTÂNCIA
Quem será o próximo a ter o mesmo destino
Do retrato que compõe a vida deste menino
Que sobrevive na rua agasalhado ao relento
Onde a verdade nua e crua, faz o seu julgamento
E ele sem excepção também tem sido julgado
Devido ao modo de vida que se tem divulgado
E sobre esse estado a tristeza mata a alegria
No interior do seu rosto que sofre todos os dias
Olhando nas estrelas ele começa a sonhar
Como seria tão bom se eu tivesse o meu lar
Com o Pai e Mãe, em harmonia comigo
Dando-me uma vida melhor do que a de mendigo
Tirando-me deste mundo que é um grande perigo
Onde o amigo mata o amigo através de um abrigo
Mas a voz da realidade responde por si
Meu filho não sonhes alto o teu mundo está aqui
O teu lar é a passadeira desta pobre ruela
Que dá-te uma vida oposta a das telenovelas
A tua mãe é a esmola que tão pouco te muda
E o teu pai é esse governo que nunca te ajuda
SEGUNDA ESTÂNCIA
Com um conteúdo vazio no interior da sacola
Não me resta fazer nada a não ser pedir esmola
Mas a esmola que me dão, não me dá solução
A não ser ficar amigo desses que cá já estão
Mas esses que cá já estão, não têm sustentação
Porque roubam para terem alguma alimentação
Não tenho nada a perder se eu cometer infracções
Porque p'ra quem vive na rua existem várias razões
Aqui a vida é uma novela coberta de ódio
Onde um dos personagens morre a cada episódio
E eu nada posso fazer como um filho de Angola
Porque eu quis a caneta mas ela deu-me a pistola
E eu já não assumo o desejo de realizar
O sonho que desde criança tentei idealizar
Porque a idade não perdoa, e ela não se comprime
Enquanto o meu sonho naufraga nesta vida do crime
As vezes, eu pergunto nesta dor eterna
Mas que raio de governo é este que me governa
Dentro deste sistema que sempre me consumiu
Por meio de Angola que me pariu e não me assumiu
TERCEIRA ESTÂNCIA
Se pelo menos o pais tivesse a plena noção
Do que uma criança simboliza p'ra uma nação
Não se veriam tantas crianças como este menino
Que amparou-se no relento e ficou fora do ensino
E quem vive na rua não atinge o sucesso
Porque a vida que lá vive-se é uma vida no avesso
Cujo insucesso, tem um trono expresso
Cada um leva a sua cruz e cada um paga o seu preço
E ele sem excepção pagou um preço tão alto
Quando na sua rotina praticava um assalto
Pensando que o assalto era de maior salto
Só que no dia seguinte estava morto no asfalto
E enquanto ele morria o sistema sorria
Porque a morte de mais um filho bastardo ocorria
E quem o via, libertava ignorância
Porque quem tem apenas vê a vida dura a distância
Não sabendo o que ocorre e decorre na rua
A vida lá não é boa mas mesmo assim continua
Mas agora me respondam uma simples questão
Quem será o próximo a viver esta situação?
CORO: O que será da vida... ?
Que a vida roubou de mim
Mas o que será da vida... vida?
Viver não pode ser assim