Chamava-se ela Maria,
De sobrenome da Cruz,
E na aldeia onde ela vivia, sorria
Vivia na paz de Jesus
Tinha um amor, a quem ela
Seu coração entregara
Junto ao altar da capela
Singela, onde ela
Paixão lhe jurara
Mas certo dia
Veio saber-se na aldeia
Que o seu pastor lhe mentia
Que esse amor se lhe extinguia
Como a luz de uma candeia
Desiludida do seu amor, a Maria
Deixou o lar e perdida
Foi cair desfalecida
Num portal da Mouraria
Sofreu a dor da amargura,
Perdeu o viço e a cor
E não voltou à ventura,
À docura, à ternura,
Do amor do pastor
E hoje por cruz, a Maria,
Que é da Cruz, por seu fadário,
Arrasta na Mouraria
A cruz da agonia,
A cruz do Calvário
Ainda canta
Uma canção quase morta
Mas o estertor na garganta,
Oiço já, quando ela canta,
Ao passar à sua porta
Não tarda o dia
Em que ela, enfim, já vencida,
Terminará a agonia
A arrastar na Mouraria
Toda a cruz da sua vida