Lá no sítio aonde eu moro
É uma beleza divina
Eu me deito e me levanto
Sem apito e sem buzina
Porque lá não tem lombada
Nem carro dobrando a esquina
O meu carro é minha égua
Que caminha muitas léguas
E não gasta gasolina
Eu não troco a minha égua
Manga-Larga Campolina
Com mais de um metro de rabo
E com dois palmos de crina
Por um carrão importado
Nem que venha da Argentina
Minha é mais que um carro
Anda por cima de barro
E não encalha e não patina
Sou caboclo pé rachado
Ninguém muda minha sina
Gosto de viver no mato
E seguir boas doutrinas
Meu filhos são bem criados
Debaixo da disciplina
Deles não sinto vergonha
Porque não fala em maconha
E não conhece cocaína
De segunda a sexta-feira
Não mudo minha rotina
Labuto com minha roça
E quando a semana termina
Pra aquelas beira de rio
Eu saio batê corvina
Lambari rabo vermelho
Eu pego de saco cheio
Com rede de malha fina
Com o clima do meu sítio
Ninguém se contamina
Gozo de boa saúde
Não procuro medicina
A gente sente o ar puro
Entrando pelas narina
Poluição por lá não passa
Lá em casa só faz fumaça
Quando acende a lamparina
É por isso que eu não troco
A minha casa na colina
Sem murada e sem calçada
Sem vidraça e sem cortina
Por um prédio na cidade
Rodeado de piscina
Caboclo mora onde eu moro
Ele bebe água sem cloro
E como arroz sem parafina
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)