A voz da querência num touro que berra
E o cheiro da terra que a chuva levanta,
Se chegam matreiros e o rancho me invadem,
Trazendo saudades no vento que canta...
Milonga do campo sombreia espinilhos
E espanta os potrilhos além da manada;
Destino trançado nos tentos do laço
Que afaga o mormaço na tez das aguadas!
Cadência estradeira das patas do pingo,
Canção que o domingo compôs na distância,
Sovando os arreios no lombo do tempo
Com as notas que o vento soprou nas estâncias!
Milonga do campo que eu canto pro gado,
Fundão de banhado, coxilha povoada;
Acende candeeiros na noite mais calma,
Com a chama da alma que trago invernada!
E as garças perdidas embalam as asas,
Revoam às casas num leve reponte,
Tal fosse uma tela que Deus, inspirado,
Tivesse pintado no azul do horizonte!
Milonga do campo que, mesmo chorando,
Ressurge brotando tal fosse o capim,
Matando-me a sede de secas restingas
Nas fundas cacimbas que habitam em mim!