Depois que a manhã se desdobra
Pra chover
Vem tanta nuvem da serra pra cá
Onde o vento se joga?
Então, já depois de amanhã
Talvez
Seja tarde demais pra chegar
Mas se der
Não demora?
Eu
No domingo que vem vou lá
Nem que seja bem tarde
Mesmo sendo madrugada até
Vale á pena se deitar
No leito do rio e deixar se levar?
Depois
Esquecer do caminho de casa
Pra jogar toda tarde fora
Sem ter hora pra retornar
Sem ter hoje nem ter amanhã
Pra chorar, pra sorrir
Pra dormir, pra sonhar
Pra chegar, pra sair
Pra se perder no silêncio do olhar
Lá
Onde o tempo se escora
É que a tarde namora
É que o vento se enrosca pra depois soltar
Lá no alto mais alto que há
Onde quase não dá pra chegar
Onde a folha se larga
E desliza na brisa
De leve
E vai caindo sem vertigem
Como luva na paisagem
Lentamente
Num redemoinho feito um carrossel
Do chão pro céu
Do céu pro chão
Do chão pro céu de madrugada
Numa calma disparada
Onde tudo quer passar
Tranqüilo sem correr sequer perigo qualquer
A qualquer hora?
Lá, vou dizer: eu encontrei a paz?
E por isso, aonde quer que vá
Deixo a brisa me guiar, se for
A mesma brisa
Aquela mesma
Que soprava
Serra dentro
Vendo a paisagem deslizar
Sem pressa
Sem pressa
Na sombra
Saudade sincera
Enquanto a vida se derrama no ar?
Num domingo qualquer dessas estelares semanas
A mansidão é tanta
Que assimila a planta e se recria em dia e noite só
Em noite e dia que amanheceria
sempre e novamente em cada pomar
E depois de cada manhã sopraria a brisa de lá
Pra trazer outra sombra, outra luz, outra serra pra cá?