Quando o pé acerta o rumo
A estrada se orienta
Cada passo que se inventa
Pisa o chão e toma prumo
Cada fruta tem seu sumo
Cada hora, o seu momento
Cada folha tem seu vento
Quando a areia se levanta
A imensidão é tanta
Que arrebenta o pensamento?
Longe, nuvens tão imensas
Deslizando, carregadas
Como ondas disparadas
São tão leves e tão densas
São embarcações intensas
São cargueiros libertados
São navios naufragados
São veleiros, são escunas
Navegando pelas dunas
Desses olhos marejados?
Já o mar tem duas rotas
Quando é dia e tudo brilha
A correnteza é uma trilha
No traçado das ilhotas
Voam mais que gaivotas
No desejo, que é tão grande
Não há cria que desande
Tudo é vasto, tudo é certo
Nesse carnaval deserto
Onde a alma se expande?
Mas, se é noite, o mar serena
E adormece pensativo
Sem anseio e sem motivo
Sua mansidão é plena
Mesmo a estrela tão pequena
Deve ter alguém que aponte
Mesmo que a manhã desponte
É tão doce a maresia
Toda linha se desfia
Menos essa do horizonte