To vagando, to na noite, ta amanhecendo.
E vou te contar o que ta acontecendo.
Espero o trem e ele não vem.
Olho pro lado e não vejo mais ninguém.
São duas, três horas e o tempo vai passando.
Longe de casa e vou me preocupando.
Bolso vazio, só um passe no bolso.
Mas to de boa, sem nenhum desgosto.
As vezes, escolhemos o caminho que vamos percorrer.
Mas temos que ter garra e muito proceder.
Olho pro lado, uns tão jogados.
Vida dura de rua, uns já tão acostumados.
Tão acostumados e a vida vão levando.
Violão de quatro cordas, eles vão tocando.
Me escosto num canto e não digo quem eu sou.
A principio me respeitam e me chamam de senhor.
É Deus na frente seja onde for.
Pra ser firma de verdade tem que viver..saber.
Deste modo, você não tem nada a temer.
É dar respeito pra respeito receber.
Me encosto num canto e tento dormir.
Esperando, já a uma cota, espero a estação abrir.
São quase três e pouco e escuto um violão.
Me aproximo e vejo que são irmãos.
Sem dinheiro, sem casa, uns pensando nos filhos
Na medida do possível, todos estão tranqüilos
Enfrentanto Sol e chuva e morando ao relento
Mas tocam em frente sem nenhum lamento.
Me perguntam quem eu sou? Digo: Mauricião
Respeito de todos, encontrei mais irmãos.
Na noite perdido ainda encontro amigos.
To aqui de novo relatando um acontecido.
Voltando ao violão, ele passa de mão em mão.
E todos tocam um pouco e cantam no refrão.
As preferidas são as de protesto.
Também Adoniran, joga as cascas e o “Ernesto.”
Rap nacional, Racionais, Vida Loka.
Relembram também Bezerra e Boka Loka.
A sineta toca e me despeço dos manos.
Firmeza total!! O trenzão ta chegando.
Esta é a vida dos chamados: “sem beira nem eira”.
Vendo de perto não vejo canseira.
Só seres humanos esquecidos pelo mundo.
Que para alguns são apenas vagabundos.
Este mundo não é justo, pode ter certeza.
Mas tem gente na luta tentando virar esta mesa.
To partindo, qualquer cena, a gente pode se trombar.
No gueto, no pião ou em frente pro mar.
Esta história é real. A vida nua é crua,
de um mano chamado: Morador de rua.