tô aqui na humildade colando de novo.
Pegando o microfone pra falar com meu povo.
Agradeço a Deus por mais um dia e vou contar.
O que aconteceu com o mano: o Zezão do bar.
Ele tava de boa e andando a toa.
Sentindo a separação do filho e da patroa.
Vários parceiros colaram pra amenizar.
E a anestesia, era as pinga no bar.
De repente, tudo para de fazer sentido.
Começa a ter receio da família e dos amigos.
Perturbação da mente perde a noção ao cerco
Síndrome do pânico, disso é eleito
Vários meses, direto, fugindo de tudo.
Sem noção do presente ou mesmo do futuro.
Só pânico, pânico e saudades da família.
Mesmo assim, vai seguindo a sua trilha.
A fé nunca perde, isso é que ajuda.
Anda de um lado pro outro é a maior tortura.
Um ano, direto, às vezes sem comer.
Muitas vezes, acordado, até o amanhecer.
Casal firmeza vai embora, aí tudo piora.
Sozinho em casa, acordado, até umas horas.
Chega a falar sozinho, maior depressão.
Só perseguição na mente e tremenda solidão.
Foi ai, que ele colou, colou na vila.
E deparou com a patroa, sua ex-, toda família.
Pra ele, todos estavam em grande perigo.
Não era a verdade mas acreditava naquilo.
Fez um grande barraco, bem perto de uma esquina.
Acabou numa viatura, Bezerra, fim de linha.
Trancafiado pelas grandes mas parceiros da hora.
Quem será que é mais louco, quem tá dentro ou quem tá
fora?
Lá dentro muita tristeza mas também humanidade.
Muitas vezes mas que aqui, onde chamam sociedade.
Lá dentro, muita leitura, exercícios e artesanato.
Na oficina, do Mandela, ele fez um retrato.
Mesmo assim, todos queriam sair a toda hora.
Nada é melhor que a liberdade aqui de fora.
Visita também é importante, não perca o horário.
Pra ele foi de boa, levaram dinheiro e até cigarro.
Entrou e saiu várias vezes mas um dia tava melhor.
Mas as bombas eram de responsa, isso era o pior.
Um dia num ponto qualquer, não viu o buzão chegar.
Foi ai que percebeu, que dos remédios precisava
parar.
Colou na igreja e começou a orar.
Pedindo pra Deus. Pra Deus te libertar
Demorou algum tempo mas o milagre aconteceu.
Parou de tomar, devagar, e ninguém percebeu.
Os manos colaram, até gente que há muito não via.
Isso fez a diferença e foi seguindo a sua trilha
Dia após dia ele foi se recuperando.
Se escreveu num projeto e acabou entrando.
Uma bolsa de estudos conseguiu ganhar.
Pra fazer a faculdade e voltar a trabalhar.
Essa oportunidade, lhe trouxe de volta a mente
Ele podia até tá morto, enterrado como indigente.
Sei que muitos, no mesmo corre, acabam numa vala.
Se dar bem na vida não é sinônimo de quem trabalha.
Mas o Zé é virado pra lua e nunca esquece daquilo.
Foi ai que me contou, pra mim e pra alguns amigos.
Pra ele, um mano pode voltar se tiver oportunidade.
Ao invés de tudo isso, só tortura, morte e grade.
Aconteceu com o mano, já faz alguns anos.
Foi bombardeado. Não estava nos seus planos.
Oportunidade e Deus tiraram o mano do fundo poço.
Por isso não desista irmão. O resto é osso.
Por isso não desista irmã. O resto é osso.