Terra da garoa, nunca mais existiu,
São Paulo agora está é mais pra terra do toró,
Da chuva forte, das pancadas, das trovoadas e das
enchentes,
Não agüenta uma chuva qualquer, destrói tudo que um
dia já existiu,
E o homem sossegado no barzinho quando tomava seu
"goro",
Viu a água subir e abaixar em alguns instantes,
Água suja e traiçoeira,
Que sem dó atinge a rica e alta burguesia,
Água suja e traiçoeira,
Que sem dó atinge a mais simples das periferias,
Substância cruel que não leva nem ladrão para a
penitenciária,
Mas este povo tenta sempre achar a melhor maneira,
Para se viver, e sob as águas sobreviver,
Não tem zona escolhida,
Quando vem, chega chegando,
Derrubando os copos do barzinho,
Matando gente inocente com todo o carinho,
Espancando o asfalto, as casas e as pessoas,
E quem neste lugar vive.
Mas o bebedor e o barzinho,
Num desnível de terra, em um planaltinho,
Assistem a tudo isso,
Sem se quer poder fazer algo,
E o pobre bebedor que afogava suas mágoas na bebida,
Estava triste e com medo,
Pois havia na enchente, perdido seu amigo,
Com quem viveu por anos,
Desde os tempos de colégio,
De juventude boêmia e trabalhosa,
Eram órfãos, por que na guerra seus pais foram
embora,
Ficaram a sós,
E vitimas das chuvas,
Que molham a todos, sem qualquer aviso prévio,
Água suja e traiçoeira,
Que sem dó atinge a rica e alta burguesia,
Água suja e traiçoeira,
Que sem dó atinge a mais simples das periferias,
Mas o bebedor viu tudo acabar,
Como tudo começou,
Lá no banco do barzinho,
Conversando sozinho,
Sobre a chuva que caía,
Água suja e traiçoeira,
Que sem dó atinge a rica e alta burguesia,
Água suja e traiçoeira,
Que sem dó atinge a mais simples das periferias.