A escuridão urbana tudo torna análogo
Os antônimos em sinonímias transforma
As antíteses geométricas em símbolos
Metafóricos que densificam as formas
Consubstanciando o estereótipo físico
Da imagem - que materializa-se, disforme
Sob o véu que uma dimensão de luto veste!
A escravidão urbana tudo identifica
Não depende do regime, da estação
Se na tirania do inverno, do verão
Se no outono democrático, liberal
E até no socialismo primaveril
Se-quando o poder cede às suas vis tendências
De egoistificar-se, imperializando-se!
Onde estão as carnívoras rosas vermelhas
E os férteis parasitas do jardim urbano
E os portões de ferro - as grades da imposição
E o destino do trânsito da oposição
E os subalternos porões das castas abjetas
E os sótãos - refúgio dos sanguinários corvos
Habitat das águias... éden aristocrático
Da sociedade do terceiro milênio?
Estrelas? só no céu que ainda o lume espelha!
Não há contrastes. não há confrontos. só breu
Não há arco-íris depois do temporal
Pois o sol fugiu e, de madrugada, ao léu
Que existência pode haver, artificial
Se tudo cai no anonimato - mesmo eu!
Quem está na esquina senão uma escultura
Um totem tecnológico, um ídolo urbano
Um mecânico artifício? (engenho humano?)
E que figura é esta a mover-se intrusa
No sagrado altar da pirâmide moderna?
É um humano ou um robô? é uma estátua?
(um reflexo, uma sombra ou uma silhueta?)
Pois quem está na rua? (o que?
senão um carro
Senão borracha e aço, vidro e gasolina
Um protótipo de vida! onde está o homem?)
Onde e como distinguir o certo e o errado
Se as trevas obscurecem a definição?
Quem é o bandido e o herói da história (?)
Se a madrugada, enfim, é tão contraditória
Omite o óbvio - e revela o que não o é
Sepulta e ressuscita o sonho e a ilusão
Atribuindo a mesma origem e fim a ambos
Se entre estes extremos a consciência nasce
Como a irresistida alvorada futurista
Que expele lava de esperança nas entranhas
Na gestação que o tempo faz da liberdade!
(à mercê da qual a igualdade manifesta-se
Pois tanto a falta quanto o exagerar daquela
No aborto desta última culminará!
Quando - e onde - sobreviver poderá? como?)
Quem, afinal, está atrás da vítrea tela
Do luminescente vídeo, etéreo, fosfórico
Que, microscópica, uma animação demonstra
Fantasmagoricamente intergaláctica?
Um angélico-humanoide terrenal?
Ou uma terrígena criatura cósmica?
A imagem e semelhança da divindade?
Ou um mitológico ser-semi-humano?
Um descendente da raça - ou um ancestral?
A escuridão da madrugada a tudo iguala!
Que mundo! que madrugada! que escuridão!