Não o silêncio bucólico
da vegetação da serra
mas a paz que oxigena
as entranhas da floresta!
Não o plástico silêncio
de um ateliê artístico
mas a paz que fomenta
o gênio da criação!
Não o místico silêncio
das atmosféricas nuvens
mas a paz que fecunda
o horizonte do eu!
Não o silêncio mecânico
destituído de essência
mas a paz que deflagra
uma existência sanguínea!
Não o silêncio litúrgico
que mumifica o fiel
mas a paz que transforma
a própria dor em antídoto!
Não o bélico silêncio
de uma pós-revolução
mas a paz que milita
entre os voluntários mártires!
Não o cósmico silêncio
que a infinitude cultua
mas a paz que incorpora
o eterno do "aqui-e-agora"!
Não o químico silêncio
que neurotiza os instintos
mas a paz que exorciza
o oculto mal da alma!
Não o utópico silêncio
que aliena o pacifista
mas a paz que protesta
que os direitos reivindica!
Não o silêncio político
que a liberdade suprime
mas a paz que equilibra
os extremos divergentes!
Não o silêncio elegíaco
que a necrose soleniza
mas a paz que celebra
o milagre gestativo!
Não o silêncio humano
que a ausência substancializa
mas a paz que une em "nós"
eu e Deus - e o semelhante!