O espelho se divertia
Já desprovido de luz
Retalhos de fantasias
De algum momento qualquer
Um velho contando as rugas
Sentindo o peso da cruz
A estranha filosofia
Dos olhos de uma mulher
O espelho estava no escuro
Sem cores pra refletir
Mas tinha mais do que aço
E vidro em sua moldura
O espelho somava sonhos
Pois aprendeu a sentir
Morria e ressuscitava
Sonhando da sala escura
A sala tinha segredos
E estavam tão bem guardados
Gravados fundo no espelho
Também sonhavam no escuro
O espelho era um portal
Onde as visões do passado
Sentindo além do seu tempo
Vinham ganhar o futuro!
O espelho amava escuro
Um amor reflexão
Entre o insano e o impuro
Zombava de qualquer um
Mas bem no fundo queria
Mil luzes na escuridão
E assim querendo, o espelho
Nutria um sonho comum
O espelho preso no escuro
Trazia mais que miragens
Transpassando tantos muros
Da escuridão tão vazia
O espelho ria baixinho
Criando mundos e imagens
Pois tinha um sonho em seu aço
Que se chamava poesia!