Ando a galope do vento, cruzando o pampa enorme
Sou a coxilha que dorme, solita, no descampado
Sou o mugir triste do gado, que dá o rumo das aguadas
Sou noites enluaradas, deste meu chão colorado
Saí das entranhas da terra, sou um pouco de areia e rama
Ouço uma voz que me chama, quase em silêncio profundo
Sou o velho sonho oriundo, dos tempos da mocidade
Sou lasca de uma saudade, que vem lá do fim do mundo
Sou alma perdida que habita, o silêncio das taperas
Sou cantoria dos cuéras, no horizonte que se esteia
Sou o minuano que jardeia, na fúria dos temporais
Sou o canto dos pastiçais, que nos ventos gineteia
Sou batalhas guaraníticas, sou flecha, lança e tacapes
Sou Guarani,Charrua ou Tapes, sou visão, sou visageiro
Sou picomã de candieiro, sou agouro dos pelinchos
Sou peleia e bochinchos do meu pago missioneiro
Sou os versos dos poetas, de pura cepa crioula
Sou o canto triste da rola, cantando no meu rincão
Sou gaúcha meu irmão, a mulher que canta triste
Sou a tradição que resiste, laçaços da evolução
Sou filha do vento xucro, sou neta da ventania
Meu grito se ouve ao longe nas canhadas e serranias
Sou o sangue do gaúcho, nesta minha terra bravia
Sou o canto triste do anguera, sou a própria filosofia