Esta milonga que canto
É mais baguala que as outras
Tropilha de ânsias potras
Oração a um pago santo
Esta milonga que canto
É um lote de coisas buenas
Pinchaços de nazarenas
Sombreiros, ponchos e garras
Pajadores e guitarras
Templando o que vale a pena
Milonga que se intromete
E amanhece nos galpões
Lembrando das marcações
Puxando por baixo do brete
Milonga de buenos fletes
Parceira do índio andejo
Milonga de mil lampejos
Mormaceiras e tormentas
Milonga que se lamenta
Cobrando da Lua um beijo
Então por isso me abraço
A esta guitarra xucra
E a ânsia que me cutuca
Pede boca e ganha espaço
Num garganteio machaço
De vereda me entrevéro
Pois milonga eu considero
A que traz presa nos tentos
O forte assobio dos ventos
E o canto do quero-quero
Esta milonga que canto
Traz tilintar de rosetas
Choramingo de carretas
Que se olvidaram faz tanto
Esta milonga que canto
Traz tosa e banho de oveia
Esta milonga tranqueia
Talvez campeando um sinuelo
Da potrada em atropelo
Que liberta matrereia
Desde o redomão sestroso
Ao cusco mais companheiro
Desde o índio caborteiro
Ao velho mais pacencioso
Entre o manso e o cabuloso
Um apego se adelgaça
Um guapo jamais fracassa
E a coragem vira um trauma
Quando a milonga da alma
A um corpo forte se abraça