Minha milonga foi parida nos grotões
É de erva buena, sorvida com gosto
Traz o calor de um janeiro que abrasa
E vez por outra as invernias de agosto
Tem a ternura de uma mãe que deu a luz
E por vez primeira beija a cria no rosto
Minha milonga é sempre de todo laço
Armada grande para cantar a fronteira
Berro de touro num pelado de rodeio
Bufo de potro encerrado na mangueira
Traz ânsias de um guarani boleador
Correndo atrás da cavalhada matreira
Minha milonga trás o Rio Grande nos tentos
E como é lindo quando começo a cantá-lo
A alma calça esporas pra mais uma recolhida
Campeira lida que Deus me deu como um regalo
Ruflando lenço morando dentro do poncho
Que vai aberto sobre a anca do cavalo
Minha milonga trás o sangue da indiada
Que nos deixou essa pátria de herança
E na peleia demarcou estas fronteiras
Com boleadeiras e a ponta de lanças
Viveram tempestades nos lombos dos ventenas
Pra nos deixar hoje uma brisa mansa
Minha milonga bate cascos nas estradas
É flor d'água que vive no parronal
Santa fé quinchando um rancho de barro
Vento forte que adelgaça o chircal
É palanque cravado em frente ao galpão
Marcado a dente das mordidas de um bagual